quarta-feira, 9 de novembro de 2011

EDDYLENE NA ILHA DE CARAS PARTE 9


O pano vermelho ocultava, até então, um Audi A8, todo automático, preto-graúna com aros 18 e um engate de reboque que puxava uma carrocinha que em cima continha uma kawasaqui Ninja e uma lancha de 14 pés. Quase me mijei toda.
Fui correndo ao bangalô e peguei minha faca Ginsu 2000, que tem lâmina produzida por tecnologia alienígena, caso precisasse dela, e o spray de pimenta. A briga começava:
– Se eu ganhar os prêmios, doarei todos para a caridade!!! balbuciou uma velha asquerosa que de tão rica, com uma kanga de seda chinesa com fios dourados que transformavam a trama em um labirinto de luxúria, brincos de pressão com pedras de topázio que pareciam dois paralelepípedos nas orelhas gigantes de Lima Duarte.
Eu pensava junto a mim mesma: “se eu ganhar não vou dar porra nenhuma pra criança nenhuma. Já não basta o cheque de quinze mil que eu doei pra essa porra?”.
Quando pensei no cheque, me lembrei que esqueci de avisar à puta da garota que era pra 30 dias, mas fiquei com vergonha de voltar lá. No palco, Hebe dizia: – O objetivo da nossa gincana é o seguinte: reunir o maior número de latas, garrafas, papéis, papelão, vidros e qualquer outro tipo de detrito que exista na Ilha.
(Fiquei abismada de saber o quanto aquele lugar era imundo) – As recordistas do ano passado foram Lili de Carvalho Marinho e Vera Loyola que conseguiram juntar dois quilos de lixo fazendo de nossa ilha, um lugar melhor para se viver!
Dois quilos? Elas recolhem dois quilos de lixo e acham que salvaram o planeta? Só o laquê que elas põem na cabeça é responsável por metade do buraco da camada de ozônio. Faça-me o favor.
Eu precisava de 20 quilos, isso mesmo, 20 quilos de lixo, e nada me impediria de conseguir. Talvez se eu conseguisse um bicho morto, aumentaria minha reputação. – As regras da gincana são as seguintes (sisse Hebe): Não pode fumar durante o percurso; não pode pegar duas latas de uma vez (a voluntária traz uma lata, volta e pega a outra); não pode trapacear, cortar caminho ou pedir ajuda a quem não for da gincana. Enfim, espero que se divirtam. Vamos fazer o sorteio. – Que sorteio?
Perguntou Luana Piovani, que estava atrás de mim. Eu detesto essa atriz. Pedante, abusada e agora era minha rival. Vi uma reportagem em que ela dava um soco em um repórter. Imagino o que ela não seria capaz de fazer para ganhar tudo aquilo (ou ela queria enganar a quem que amava as crianças doentes?) Fui para trás de uma tenda e amolei minha Ginsu 2000 numa pedra. Eu definitivamente precisaria dela. O sorteio era para definir os pares.
A gincana funcionava da seguinte forma, sorteavam duas amapôas. Uma ficava parada com o latão de lixo tirando fotos para todas as revistas especializadas em moda, que sempre publicavam que elas até catando lixo eram belíssimas, e a outra que se fodia toda catando o lixo, se furando em espinho e se cortando em caco de vidro. Essa fui eu.
O pior era saber que além de tudo eu teria que dividir o que ganhei com ela, portanto, eu tinha que dar um jeito de minha parceira ser a Bila e caso ela criasse encrenca na hora da divisão, seria só eu passar na cara dela que se não fosse por mim, ela não teria colocado os dentes da frente nem curado as coceiras embaixo das axilas.
Mas como eu faria isso? Claro, fazendo a minha parceira desistir de participar, se machucar, ou morrer. – Primeira dupla!!! (Disse Hebe animadinha depois da segunda caipirinha). – Eddylene Salton Rosé e Narcisa Tamborindeguy!!!!

Olhei pra cara de Narcisa, que me olhou em retruco e disse: – Ai que loucura!! (Muito previsível por sinal...). Eu precisaria de um ataque terrorista pra cima dela em poucos minutos, já que a gincana começaria em instantes. Resolvi atacar.
Cheguei perto de Narcisa e disse: – Sabe o que li anteontem na revista mais conceituada em arquitetura e disign de Milão? Ela com uma notável curiosidade e um sorriso automático meio de quem é seqüelado perguntou: – O quê? Aí eu respondi: – Os banheiros da “Inovation” são o que há de mais decadente e ultrapassado quando o assunto é elegância. Só perde para os tubos de conexão Tigre.
Ela entrou em depressão na hora e saiu correndo pra nunca mais voltar para o convívio social. Sendo a imobilização de Narcisa a coisa mais fácil que eu já fiz na vida, restava agora eu sugerir minha parceira já que estávamos todas em par. Claro, sugeri minha amiga e companheira Bila Bilú.

Nenhum comentário:

Postar um comentário