O preconceito e a falta de direitos
civis, que são problemas para todas as idades, acentuam as consequências
do envelhecimento para os homossexuais. Esse é o resultado de uma
pesquisa feita pela ONG inglesa Stonewall com gays, lésbicas, bissexuais
e heterossexuais maiores de 55 anos no Reino Unido.
O estudo, divulgado em setembro,
revela que 34% dos gays e bissexuais homens foram diagnosticados com
depressão e 29% com ansiedade, o dobro em relação aos heterossexuais da
mesma faixa etária. Nas mulheres, as diferenças entre os dois grupos são
menores, mas os percentuais ainda são maiores entre as lésbicas (40% e
33% contra 33% e 26%).
O número de homossexuais idosos
que consomem drogas é quatro vezes maior que entre os heterossexuais (9%
contra 2%), assim como é maior o consumo de álcool e cigarro.
De acordo com pessoas
entrevistadas pela reportagem, a realidade é parecida no Brasil, apesar
de não haver dados e pesquisa semelhante para comparar.
"O gay velho é muito mal visto na sociedade, até entre os próprios gays", afirma o funcionário público Mário Tatsumoto, 50.
"Aqui no Brasil, os homossexuais
não saem mais de casa quando passam de 30. Na Europa, o que você vê na
rua são os gays de 40 a 60 anos", concorda o baiano Antônio Almínio, 55,
que mora em São Paulo há mais de 30 anos.
DIFERENÇAS NA SAÚDE
O preconceito em relação à
orientação sexual acaba afetando a qualidade do atendimento público de
saúde para esse grupo. Em 14% dos casos pesquisados no Reino Unido, os
parceiros de homossexuais não puderam opinar sobre tratamentos para seu
companheiro e 25% presenciaram algum tipo de discriminação pela
orientação sexual.
A pesquisa da ONG Stonewall
também aponta que o atendimento em asilos e residências para idosos é
feito por profissionais que não são treinados para lidar com gays,
lésbicas e bissexuais.
Uma das alternativas para tentar
driblar o preconceito é criação de residências exclusivas para
homossexuais, que já existem na Europa, nos Estados Unidos e na
Argentina.
"A criação desse tipo de casa é
vista por muita gente como uma volta ao gueto, mas é uma oportunidade de
socialização para os gays de baixa renda", afirma o técnico em
informática Regis Cardoso, 52, criador do blog e do site "Grisalhos",
que fala sobre saúde e relacionamentos com gays maduros.
O escritor João Silvério
Trevisan, 66, que deu auxílio a gays idosos em dificuldades financeiras e
com problemas de saúde, critica esse tipo de iniciativa. "Por que, em
vez de fazer asilos, a sociedade não pode criar grupos para ajudar esses
gays da terceira idade?"
Pesquisador do Núcleo de
Identidade de Gênero e Subjetividades da UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina), Fernando Pocahy, 40, diz que é preciso oferecer
atendimento aos idosos de forma indiscriminada. Ele sugere a organização
de residências coletivas entre grupos de amigos gays.
"É uma alternativa para essas pessoas viverem melhor, construindo vínculos com seus pares, e envelhecerem juntos."
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